Marilton Maxakalí, pesquisador indígena do Prodoclin, viajou no mês passado para a capital da Paraíba para apresentar seu filme no VI Encontro da Associação Brasileira de Etnomusicologia. Marilton foi acompanhado pela pesquisadora e etnomusicóloga Rosângela de Tugny, que escreveu o relato a seguir.
Por Rosângela de Tugny
"Marilton
Maxakali foi um dos 9 jovens que participou de uma formação de realizadores
indígenas da Aldeia Nova na Terra Indígena do Pradinho em 2008. Desde então, a
câmera e o filme passaram a fazer parte de sua vida. Com o filme e a câmara
fotográfica, ele mostra sua aldeia, narra as histórias dos velhos, que tanto
gosta de ouvir. Marilton esteve no FICA (Festival Internacional do Cinema
Ambiental) em 2010 apresentando um dos filmes coletivos realizados na Aldeia
Vila Nova, “Caçando Capivara”, que recebeu o prêmio de melhor filme média
–metragem. Participou intensamente das atividades realizadas pelo projeto “A
escrita audiovisual indígena”, uma pesquisa realizada pelo INCT, de Inclusão no
Ensino Superior, e ainda participa como pesquisador em colaboração com o
PRODOCLIN. As fotos realizadas por Marilton ganharam interesse do diretor do
Centro de Fotografia de Genebra, Joerg Bader, curador da mostra “Segue-se ver o
que quisesse”, tendo então merecido uma sala dessa importante exposição
realizada em Belo Horizonte em 2012.
Marilton
esteve no VI Encontro da Associação Brasileira de Etnomusicologia em João
Pessoa apresentando, no dia 31, o filme “Cantos do Putuxop”, durante uma sessão de mostra de filmes sobre
música. Participaram outros realizadores acadêmicos e seu parentes Vherá Poty,
da etnia Mbya Guarani, Dodanin Krahô, Secundo Krahô, Valério Vera e Izaque João.
Durante os debates e manifestações de renomados etnomusicólogos, destacou-se a
qualidade da câmera do filme Cantos do Putuxop, apresentando a música em longos
planos, denotando a escuta atenta do filme. O filme foi também exaltado pela
edição, que abre mão da narrativa explicativa e proporciona uma intensa
experiência ritual-musical, aproximando quem o assiste cada vez mais dos
povos-papagaios-homens. O filme “Cantos do Putuxop” é uma realização da Aldeia
Vila Nova, do qual participaram as Associações Vídeo nas Aldeias, Instituto
Cultural Catitu-Aldeia em Cena, o Museu do Índio-Funai e a Escola de Música da
UFMG.
A
presença dos indígenas durante o Encontro da Associação Brasileira de
Etnomusicologia foi aclamada por muitos pesquisadores, que vêm buscando cada
vez mais tornar os espaços acadêmicos pluriepistêmicos, compreendendo a
importância do reconhecimento público de mestres das culturas tradicionais. Por
iniciativa dos anciãos indígenas, houve uma sessão paralela de encontro dos
mestres indígenas e os pesquisadores do Projeto de Documentação Sonora do Museu
do Indio, Marília Stein e Verônica Aldé. As histórias e experiências foram
trocadas. Toda a sessão foi registrada pela câmera de Marilton e pelas fotos de
Vherá Poty.
No
dia 30 de maio realizou-se a mesa-redonda “Música, conhecimentos tradicionais e
sustentabilidade”, formada por Secundo Krahô e seu filho Dodanin Krahô, Valério
Vera e Izaque João, Vherá Poty e a quilombola Ana Lúcia Rodrigues do
Nascimento. Destacou-se a apresentaçãoo do trabalho do mestre em História pela
Universidade Federal da grande Dourados, Izaque João sobre o quão musical é a
arte do cultivo do milho branco pelos Guarani Kaiowa, arte que envolve um
cuidado milimétrico com os gestos de quem planta e com os atos sonoros que
transformam o clima e a terra. Izaque João apresentou ao público as dificuldades
que enfrentam os Guarani Kaiowa há algumas décadas para sustentarem esta
prática agrária e musical, devido às sucessivas expulsões que sofreram de suas
terras tradicionais. Os acadêmicos presentes compreenderam o quanto para os
povos indígenas a arte musical é também uma forma de ecologia e manejo da terra
e seus recursos, e o quão contrastante ela é com respeito à monocultura do
agronegócio que, com o poder bélico, suplanta a arte agrário-musical milenar
dos povos Guarani e Kaiowa dessa região".
Marilton também escreveu sobre a sua experiência. Segue o seu texto, originalmente escrito em Maxakalí, com tradução para o português também feita por ele.
Nũhũ' 'ũghãm 'ax yãmai' tãmnãg yãmtup pax 'ãte' 'ãmnĩy 31 de
maio de 2013 hãg xip yo’ãm pexo' tu' putuxop pex mũg‘ãyuhuk pu'xi yãymax xop pu' ha yã xohi' tuptupax ha' yãmaitãmnãg 'ãte'
mihaya' hu hãmxomã 'ax nõy yũmũg hu' homi' nõ yãy xape xop yũmũgã' xi yã
kama' hetanat xut punethok hu' nõ tappet mãnãn hu' mõpok mõyep pu' xi apne' tu' 'ãte’ yãyã xop yĩkopit hu' yĩy kax 'ãmix
xi nõpimã' kama'.
Marilton Maxakalí
Tradução
Este meu trabalho foi muito bom. Gostei muito.
Foi no dia 31 de maio de 2013. Estava em João pessoa apresentando o filme “Cantos
do Putuxop” para os não indígenas e os outros indígenas. Todo mundo gostou e
foi muito bom. Eu achei bom viajar para aprender outras coisas para ensinar na
minha comunidade e também fiz muitas fotos juntei com este texto que fiz para o
Museu do Indio-Funai. Lá na aldeia eu pesquiso com nossos avós,
escrevo a voz deles e filmo também.
Algumas fotos da visita a João Pessoa
Marilton Maxakalí, pesquisador indígena do Prodoclin, viajou no mês passado para a capital da Paraíba para apresentar seu filme no VI Encontro da Associação Brasileira de Etnomusicologia. Marilton foi acompanhado pela pesquisadora e etnomusicóloga Rosângela de Tugny, que escreveu o relato a seguir.
Por Rosângela de Tugny
Marilton Maxakalí
Tradução
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