domingo, 9 de junho de 2013

Marilton Maxakalí apresenta filme na Paraíba



Marilton Maxakalí, pesquisador indígena do Prodoclin, viajou no mês passado para a capital da Paraíba para apresentar seu filme no VI Encontro da Associação Brasileira de Etnomusicologia. Marilton foi acompanhado pela pesquisadora e etnomusicóloga Rosângela de Tugny, que escreveu o relato a seguir. 


Por Rosângela de Tugny


"Marilton Maxakali foi um dos 9 jovens que participou de uma formação de realizadores indígenas da Aldeia Nova na Terra Indígena do Pradinho em 2008. Desde então, a câmera e o filme passaram a fazer parte de sua vida. Com o filme e a câmara fotográfica, ele mostra sua aldeia, narra as histórias dos velhos, que tanto gosta de ouvir. Marilton esteve no FICA (Festival Internacional do Cinema Ambiental) em 2010 apresentando um dos filmes coletivos realizados na Aldeia Vila Nova, “Caçando Capivara”, que recebeu o prêmio de melhor filme média –metragem. Participou intensamente das atividades realizadas pelo projeto “A escrita audiovisual indígena”, uma pesquisa realizada pelo INCT, de Inclusão no Ensino Superior, e ainda participa como pesquisador em colaboração com o PRODOCLIN. As fotos realizadas por Marilton ganharam interesse do diretor do Centro de Fotografia de Genebra, Joerg Bader, curador da mostra “Segue-se ver o que quisesse”, tendo então merecido uma sala dessa importante exposição realizada em Belo Horizonte em 2012.

Marilton esteve no VI Encontro da Associação Brasileira de Etnomusicologia em João Pessoa apresentando, no dia 31, o filme “Cantos do Putuxop”,  durante uma sessão de mostra de filmes sobre música. Participaram outros realizadores acadêmicos e seu parentes Vherá Poty, da etnia Mbya Guarani, Dodanin Krahô,   Secundo Krahô, Valério Vera e Izaque João. Durante os debates e manifestações de renomados etnomusicólogos, destacou-se a qualidade da câmera do filme Cantos do Putuxop, apresentando a música em longos planos, denotando a escuta atenta do filme. O filme foi também exaltado pela edição, que abre mão da narrativa explicativa e proporciona uma intensa experiência ritual-musical, aproximando quem o assiste cada vez mais dos povos-papagaios-homens. O filme “Cantos do Putuxop” é uma realização da Aldeia Vila Nova, do qual participaram as Associações Vídeo nas Aldeias, Instituto Cultural Catitu-Aldeia em Cena, o Museu do Índio-Funai e a Escola de Música da UFMG.
A presença dos indígenas durante o Encontro da Associação Brasileira de Etnomusicologia foi aclamada por muitos pesquisadores, que vêm buscando cada vez mais tornar os espaços acadêmicos pluriepistêmicos, compreendendo a importância do reconhecimento público de mestres das culturas tradicionais. Por iniciativa dos anciãos indígenas, houve uma sessão paralela de encontro dos mestres indígenas e os pesquisadores do Projeto de Documentação Sonora do Museu do Indio, Marília Stein e Verônica Aldé. As histórias e experiências foram trocadas. Toda a sessão foi registrada pela câmera de Marilton e pelas fotos de Vherá Poty.
No dia 30 de maio realizou-se a mesa-redonda “Música, conhecimentos tradicionais e sustentabilidade”, formada por Secundo Krahô e seu filho Dodanin Krahô, Valério Vera e Izaque João, Vherá Poty e a quilombola Ana Lúcia Rodrigues do Nascimento. Destacou-se a apresentaçãoo do trabalho do mestre em História pela Universidade Federal da grande Dourados, Izaque João sobre o quão musical é a arte do cultivo do milho branco pelos Guarani Kaiowa, arte que envolve um cuidado milimétrico com os gestos de quem planta e com os atos sonoros que transformam o clima e a terra. Izaque João apresentou ao público as dificuldades que enfrentam os Guarani Kaiowa há algumas décadas para sustentarem esta prática agrária e musical, devido às sucessivas expulsões que sofreram de suas terras tradicionais. Os acadêmicos presentes compreenderam o quanto para os povos indígenas a arte musical é também uma forma de ecologia e manejo da terra e seus recursos, e o quão contrastante ela é com respeito à monocultura do agronegócio que, com o poder bélico, suplanta a arte agrário-musical milenar dos povos Guarani e Kaiowa dessa região".    



Marilton também escreveu sobre a sua experiência. Segue o seu texto, originalmente escrito em Maxakalí, com tradução para o português também feita por ele. 

Nũhũ' 'ũghãm 'ax yãmai' tãmnãg yãmtup pax 'ãte'  'ãmnĩy 31 de  maio de 2013 hãg xip yo’ãm pexo' tu' putuxop pex mũg‘ãyuhuk pu'xi yãymax xop pu' ha yã xohi' tuptupax ha' yãmaitãmnãg 'ãte'  mihaya' hu hãmxomã 'ax nõy yũmũg hu' homi' nõ  yãy xape xop yũmũgã' xi  yã kama' hetanat xut  punethok hu' nõ tappet mãnãn hu' mõpok mõyep  pu' xi apne' tu' 'ãte’ yãyã xop yĩkopit hu'  yĩy kax 'ãmix  xi nõpimã' kama'. 

Marilton Maxakalí

Tradução
Este meu trabalho foi muito bom. Gostei muito. Foi no dia 31 de maio de 2013. Estava em João pessoa apresentando o filme “Cantos do Putuxop” para os não indígenas e os outros indígenas. Todo mundo gostou e foi muito bom. Eu achei bom viajar para aprender outras coisas para ensinar na minha comunidade e também fiz muitas fotos juntei com este texto que fiz para o Museu do Indio-Funai. Lá na aldeia eu pesquiso com nossos avós, escrevo a voz deles e filmo também.

Algumas fotos da visita a João Pessoa














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