Suely Maxakali explica técnicas aos participantes durante oficina.
A estudante de Comunicação Social, Sofia Cupertino, escreveu sua impressão sobre a mostra/oficina. Segue seu texto na íntegra.
Mostra de Design 2012
recebe mulheres Maxakali
O compartilhamento de saberes é uma
ferramenta poderosa quando se trata de contribuir para a valorização das
diferenças. Neste processo de troca podemos construir relações mais respeitosas
entre as pessoas e os diversos olhares com que experimentam o mundo.
Este ano, os belo-horizontinos tiveram a
oportunidade de compreender as técnicas desenvolvidas pelas mulheres Maxakali
para a confecção de peças com miçangas. Quem passou pela oficina, oferecida na
Mostra de Design de 2012, não aprendeu apenas a fazer colares, pulseiras e
bolsas, mas pôde partilhar outro olhar sobre o mundo, sobre as cores e sobre o
vasto conhecimento das índias Maxakali.
Mais que formas geométricas e coloridas, os
temas utilizados pelas índias em seus artesanatos estão associados a um
universo de cantos, mitos e espíritos. Muitas vezes, os motivos usados nos
artesanatos são os mesmos que ornamentam seus corpos e os mîmãnãm (pau de religião que trazem os yãmîyxop quando estes visitam as aldeias em dias de ritual). Cada yãmîy (espírito) possui seus mitos e
seus cantos, estando todos articulados com suas cores e formas. Talvez por isso
as peças sejam atraentes para além da beleza das combinações de cores, mas
também pelo jogo infinito de micro-variações de que elas são capazes de criar.
Variações essas que às vezes passam despercebidas pelo o olhar desavisado,
assim como nos cantos passam camufladas pelos ouvidos pouco atentos. A nós, aparecem
como detalhes ínfimos, mas podem ser para eles uma alteração proposital e muito
significativa no sentido de um canto ou de um desenho.
Mesmo os visitantes que não participaram
da oficina puderam apreciar as peças colocadas em exposição na mostra. Alguns
passavam pela sala e paravam para observar o cuidado e delicadeza com que as
ministrantes Suely, Elisângela e Shawara manuseavam as miçangas. Elas vão
ordenando as pequenas bolinhas coloridas, uma a uma, guiadas pela fina ponta de
uma agulha. Um fio de náilon faz caminho para que o quadro seja montado. Aos
poucos, as formas vão se delineando até que desvendamos o objeto final que pode
ser desde uma bolsa, um colar, até porta-caneta ou porta-isqueiro.
Suely Maxakali me conta que gostou muito da
experiência, mas que o tempo é pouco para aprender tudo que sabem. Afinal, são
técnicas desenvolvidas ao longo de muitos anos de prática constante e de
aprendizado com as artesãs mais experientes. Um trabalho que exige paciência e
atenção; alguns objetos demoram dias e mais dias para ficarem prontos, sendo
que o desvio de uma miçanga pode requerer que tudo seja desfeito para a
correção de um pequeno erro. As peças produzidas pelas mulheres tikmu' un
carregam em si esta outra temporalidade que lhes deu origem.
Aliás, pensarmos na paciência como virtude
indispensável para realizar esse tipo de trabalho talvez seja apenas a maneira
ansiosa com que nossa sociedade mecanizada enxerga a atividade artesanal. Na
luta contra o ócio, nossas mentes apressadas sabem que o tempo não deve ser
perdido e sim cronometrado. Temos que aproveitá-lo ao máximo; produzindo mais,
esperando menos. A noção de tempo é outra. A temporalidade indígena é marcada
mais por eventos e menos pelos segundos. Tentar respirar o tempo como eles
respiram é saltar fora dos ponteiros e vivenciar a fruição dos acontecimentos
de outro lugar. O artesanato carrega um pouco disso; é um acúmulo de outra
temporalidade.
A inserção desta oficina na Mostra de
Design é mais uma evidência de como a arte pode intensificar as relações
interculturais, aproximando olhares distintos. A troca de conhecimento faz com
que a valorização da alteridade e o respeito emirjam da convivência
despretensiosa. Mais que absorver um pouco da complexa técnica artesanal
dominada pelas mulheres Maxakali os participantes puderam experimentar as cores
e formas como portais para um passado remoto, onde um ancestral encontra um
espírito e partilha com ele cantos que até hoje são lembrados e entoados. São
histórias e músicas que estão sempre com elas, seja na lembrança, seja nas
cores que levam consigo.
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Parabéns Sofia! Ficou lindo texto! *-*
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